terça-feira, 24 de junho de 2008

Direções petistas rejeitam o candidato do PT e apóiam o candidato do Governador Blairo Maggi


Gilney Viana

Respeitar o resultado das prévias e homologar o nome do escolhido é um valor da cultura petista, uma expressão da democracia partidária, uma manifestação de respeito a filiados e filiadas. Pois não é que em Cuiabá, dirigentes partidários se negaram a referendar o nome do candidato a prefeito José Afonso Portocarrero, vencedor das prévias e resolveu apoiar o candidato do PR (leia-se Blairo Maggi), contra o Estatuto, o Regulamento das Prévias, o parecer da Secretaria de Organização do DNPT e a vontade da maioria dos filiados!

Vamos por parte. No tempo regulamentar nenhum filiado, nenhum grupo ou tendência propôs “apoio a candidato a prefeito de outro partido”, embora o CNB (também conhecido como Articulação ou Unidade na Luta) defendesse interna e publicamente o apoio ao candidato do PR (Blairo Maggi).

A Comissão Executiva Municipal, seguindo o Regulamento das Prévias e Encontros, abriu prazo e foram inscritos dois nomes para disputar as prévias para escolher o candidato do PT a prefeito: José Afonso Portocarrero, apoiado por quatro grupos locais Utopia e Vida (ligado à Militância Socialista), Graúna, Base Viva e O Trabalho; e Alencar Farina, apoiado pela Articulação de Esquerda. O vencedor, sem contestações, foi José Afonso Portocarrero, com 53,3% dos votos válidos (parte deles de filiados ligados ao CNB que não tinha candidato).

No dia do Encontro de Definição de Candidatos, 08/06, que deveria referendar o nome escolhido pelas prévias houve três fatos inusitados:

a) a maioria dos delegados eleitos (140, ligados a Articulação de Esquerda, CNB, e Movimento PT) estavam presentes no local do Encontro, mas não se credenciaram, realizando uma manobra parlamentar de não dar quorum e assim fugir da responsabilidade de homologar, responsabilidade essa, segundo o Regulamento, transferida para a Comissão Executiva Estadual;

b) antes de encerrar o horário de credenciamento dos delegados o Presidente do Diretório Municipal (ligado à AE) chamou uma reunião de representantes das “forças” internas e foi direto ao assunto: havia uma proposta, previamente acordada com o PR de Blairo Maggi e defendida pela AE e CNB: Portocarrero renunciaria e seria indicado vice na chapa PR/PT. Portocarrero mui dignamente falou que foi escolhido para ser candidato a prefeito e não a vice. Não renunciou;

c) foi aberto e fechado o Encontro sem deixar ninguém falar. Os delegados inscritos, (77), defensores da candidatura própria, ficaram no plenário, indignados, gritando palavras de ordem e balançando as bandeiras do PT; os delegados não inscritos, ligados a AE e CNB, saíram calados, sem palavras de ordem e sem bandeiras e foram se reunir, para traçar os novos passos da manobra golpista.

No dia seguinte, 09/06 pela manhã, fizeram aprovar na Comissão Executiva Municipal e à noite na Comissão Executiva Estadual (esta presidida pelo Deputado Federal Carlos Abicalil, do CNB), a coligação com o PR (Blairo Maggi) e a indicação de uma companheira ligada ao Movimento PT para vice. No dia 10/06, reuniram-se com o PR e selaram a coligação, mesmo sabendo que a decisão partidária estaria subjudice. Agora falam em antecipar a Convenção para o dia 22/06, antes do julgamento do recurso impetrado junto a Comissão Executiva Nacional que vai se reunir no dia 23/06.

A meu ver há duas questões em jogo. Primeiro, a democracia interna, violada, ultrajada, menosprezada, desrespeitada pelos dirigentes partidários (das tendências majoritárias AE e CNB) ao sabotar o Encontro e ao não homologar, seja no Encontro seja na Executiva Estadual, o candidato escolhido pelas prévias, como indicou a Secretaria de Organização Nacional.

Segundo. Se prevalecer a vontade anti-democrática destes dirigentes do PT, de se retirar o trabalhador candidato petista a prefeito de Cuiabá e apoiar o empresário candidato do PR, configura-se a abdicação de um projeto democrático e popular para a cidade e a subordinação do partido à hegemonia do Sr. Blairo Maggi. Vale dizer, o PT que já participa do governo estadual, se transforma de vez em base da sustentabilidade política do projeto do agronegócio para Mato Grosso e para a Amazônia, submetendo-se à lógica do capital globalizado, predatório, insustentável tanto do ponto de visto social quanto do ponto de vista ambiental.

Termino reproduzindo a fala do Presidente do Diretório Municipal do PT de Cuiabá, Vilson Aguiar, da Articulação de Esquerda, repetida até o dia 07/06 à noite: “não respeitar as prévias é golpe”! Pois não é? No dia 08/06 ele mudou de fala e de posição. Mas o jogo ainda não acabou!

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