sexta-feira, 24 de abril de 2009

Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e a imprensa catarinense

"Vossa Excelência não está na rua: está na mídia, destruindo acredibilidade da Justiça brasileira. Vossa Excelência não está falandocom seus capangas em Mato Grosso". Joaquim Barbosa, para Gilmar Mendes

Essa frase provavelmente deveria estar engasgada na garganta demilhões de brasileiros!!! Muita gente vibrou com as palavras de Joaquim.

Por incrível que pareça, os veículos de comunicação já começaram o ataque a Joaquim Barbosa, ou seja, a tentativa de deslegitimar Barbosa e assegurar que o principal pota-voz (atualmente) do pensamento mais conservador da República Brasileira (Gilmar Mendes), continue a despejar um monte de asneira pela imprensa e consequentemente, ditar as regras do jogo. Como foi no caso Dantas...

Klécio Santos (chefe da Sucursal da RBS em Brasília) dá a deixa em sua coluna de hoje no DC "Um Supremo Bate-boca" e escreve: " Ao romper com a sóbria liturgia do Supremo Tribunal Federal para vociferar contra o presidente da corte, Joaquim Barbosa comprou uma briga azeda","Barbosa coleciona desafetos entre colegas de Toga", " O erro de Barbosa foi ter exposto as diferenças internas da corte em plenário e, ao vivo, pela TV justiça" "A virulência de Barbosa contudo não será digerida tão cedo, já que ele colocou em dúvida a honestidade do presidente da corte".

Em relação em romper com a "sóbria liturgia" do STF, o que dizer das"vociferações" de cunho pessoal de Mendes na imprensa?? Barbosa "coleciona desafetos" no Supremo, e o que dizer de Mendes em relação ao congresso nacional, ao poder executivo e a nação brasileira?? "O erro de Barbosa" em expor as desavenças em plenário, e o nosso garoto propaganda da direita (Mendes) o que dizer dele quando diariamente aparece em rede nacional para lançar impressões sobre MST, sobre o presidente da República, lembram? Mendes chamou as falas o Presidente da Nação, pela imprensa comercial, que no caso, passa bem loge de ser um colega de Toga e de uma TV fechada.

Portanto, o cuidado com a direita raivosa tem que estar redobrado, Joaquim Barbosa disse o que todos queriam ouvir, aliás, disse tarde. Alguém tem que por limites a falta de limites de Gilmar Mendes e seus capangas....

Cadu
Coordenador Estadual da ES

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A ESQUERDA SOCIALISTA DO PT


As esquerdas petistas apresentaram-se em várias chapas no último PED – o Processo de Eleições Diretas do PT. Não foi algo artificial. Essa divisão em várias propostas representou um processo de reacomodação, no espectro político petista, de várias correntes e campos políticos que, em particular a partir da crise de 2005, buscavam novos caminhos para si e para o PT.O momento, hoje, é bem outro. Até porque, no enfrentamento das questões centrais que marcam o debate político e programático do PT, as diferentes chapas do PED passado foram se relacionando e constituindo afinidades e distanciamentos. É possível e viável, do ponto de vista político-programático, uma chapa de unidade das esquerdas petistas, em particular daquelas que se dispõem a manter-se ocupando este espaço dentro do Partido.Com este objetivo, as chapas Militância Socialista e A Esperança é Vermelha promoveram, nos dias 3 e 4 de abril, em São Paulo, na combativa sala do Sindicato dos Professores de São Paulo, a I Conferência Nacional da Esquerda Socialista do PT. Aberta a todo o partido, a conferência contou com a representação de várias chapas do PED passado que fizeram uso da palavra, reagindo às exposições organizadas pelas duas chapas promotoras.Uma importante mesa de abertura no dia 3 reuniu importantes figuras da esquerda social e política do país e cerca de 300 militantes, debatendo as tarefas da esquerda no Brasil e no mundo. Antonio Carlos Spis, da CUT e da CMS, Pe. Benedito Ferraro, das Pastorais Sociais e das CEBs, João Pedro Stedile, do MST e da Via Campesina, e Emir Sader, da CLACSO, compuseram um mosaico expressivo da diversidade das preocupações do pensamento de esquerda presente na sociedade e dos desafios que a realidade do Brasil e do mundo neste momento de nossa história. Por vezes prevaleceu o pessimismo, por vezes o otimismo, mas em comum a sensação de que a crise capitalista em curso abre um novo período de disputa na sociedade dos ideais e projetos socialistas, e de uma radicalização de discursos e propostas de caráter democrático e popular, anti-neoliberal e anti-capitalista.No dia seguinte, com quase 200 militantes em todas as mesas, dirigentes das duas chapas promotoras da Conferência, representantes de várias outras tendências do PT e militantes presentes debateram a crise capitalista, seus impactos econômicos, sociais, políticos e ambientais e as alternativas de esquerda. Situaram a conjuntura brasileira neste contexto internacional, com destaque para uma avaliação do governo Lula e suas perspectivas, bem como as tarefas da esquerda, do PT e dos movimentos sociais para o presente e o futuro da luta socialista.Ainda é cedo para sabermos se as convergências construídas neste debate, que foram muitas e abrangentes, alcançarão a unidade de todos os setores da esquerda socialista do PT. Muitos outros fatores, além da identidade programática, interferem nos embates que teremos em 2009 nas eleições internas do PT. Mas com certeza ficou fortalecida a disposição de construção de uma chapa que tenha como ponto de partida a unidade da Militância Socialista e d’A Esperança é Vermelha, e a disposição de um diálogo construtivo com os companheiros e as companheiras que se reivindicam da esquerda socialista do PT.Outros passos na direção dessa unidade são a realização de Conferências como esta no âmbito dos estados – partindo dos 15 estados presentes ao debate de São Paulo – e a busca de consolidação dos eixos tratados na Conferência numa pré-tese a ser apresentada ao Partido até o mês de maio deste ano. Mais importante do que a unidade de correntes e campos políticos de esquerda, é preciso que se crie uma sintonia entre essa elaboração e a militância social e política que se organiza no PT e expressa sua opção transformadora não só nas instâncias do PT, mas também nos movimentos populares, sindicais, estudantis, agrários e nas lutas libertárias contra o sexismo, o racismo, a xenofobia, a homofobia, a discriminação de gerações e religiosa.Militância Socialista e A Esperança é Vermelha não se dissolvem num novo campo político, mantêm suas identidades, tradições e construções, mas tampouco se propõem a constituir uma chapa que se esgote politicamente na proclamação dos resultados do PED. Também não se apresentam como as únicas forças da esquerda socialista do PT, mas como aquelas que se consideram legitimadas a convocar, para este processo eleitoral do PT, as energias e a participação dos petistas e das petistas que ainda sonham com um Brasil socialista, plenamente soberano e democrático, num mundo sem explorados/as nem exploradores/as, sem oprimidos/as e opressores/as, em paz e com justiça social a presidir as relações entre as pessoas e as Nações.
Renato SimõesSecretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

De volta às ruas

O 30 de março marcou uma retomada da ação unificada dos movimentos sociais brasileiros em torno de suas reivindicações frente à crise econômico-financeira, no marco da Semana de Mobilização e de Lutas contra o Capitalismo e a Guerra, aprovada pela Assembléia dos Movimentos Sociais realizada durante o Fórum Social Mundial, em Belém, no último janeiro.

Fundamentais foram essas manifestações por três fatores fundamentais. Em primeiro lugar, marca um posicionamento ofensivo das centrais sindicais e movimentos sociais diante da crise, um contexto de incertezas e ataques às classes trabalhadoras e populares que muitas vezes provoca reações defensivas, recuadas, destes mesmos agentes sociais. Unificar lutas, dar a elas dimensão nacional e internacional, com certeza impede que governos e classes empresariais sejam os atores fundamentais do debate sobre as alternativas para a crise e orienta a resistência e a luta por direitos neste momento histórico.

Outro fator positivo nestas manifestações foi o alto grau de unidade em torno de uma plataforma comum e o amplo leque político das entidades organizadoras. Um esforço importante foi feito pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e pela Assembléia Popular para lograr a unidade, não só das organizações por elas representadas, com maior homogeneidade e relacionamento, mas também de outras centrais sindicais e movimentos sociais que se articulam em outras redes e composições.

Por fim, cumpre destacar ainda que o entendimento sobre os atos do dia 30 abrem caminho para outras jornadas de luta unitárias, visto que os desdobramentos da crise na atual conjuntura imporão uma mobilização permanente e uma agenda comum em constante atualização. O 1.º de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras com certeza será um marco deste processo, embora a tradição de comemorações em separado esteja tão consolidada que não será revertida a tempo de unificação neste ano.

No entanto, com certeza, o fortalecimento da Coordenação dos Movimentos Sociais nesta conjuntura é fundamental e será um fórum determinante para a construção unitária destas oportunidades de luta.

O Diretório Nacional do PT aprovou proposta, que integrava o plano de trabalho da nossa Secretaria, de realizar o 2.º Colóquio PT x Movimentos Sociais com o caráter de auxiliar na construção de uma agenda comum que Partido, Movimentos Sociais e Governo possam compartilhar para os dezoito meses finais que se abrem em junho para o governo Lula. É fundamental que o governo Lula não se encerre sem que questões essenciais e simbólicas para os movimentos sociais sejam institucionalizadas na forma de legislações aprovadas e/ou regulamentadas, de políticas públicas consolidadas e de espaços de participação popular assegurados.

Não se coloca aí em cheque a autonomia desses três entes. Na verdade, as agendas próprias continuarão, ninguém deve arriar bandeiras ou abrir mão de posicionamentos polêmicos. Mas autonomia não significa incapacidade de construir convergências e de direcionar esforços para o fortalecimento de uma agenda que, em última análise, não avança em decorrência da oposição conservadora no Congresso, no Judiciário e na sociedade civil a medidas de conteúdo popular e antineoliberal.

Aí o valor dessas mobilizações e lutas, pois uma agenda comum não se constrói a seco nem na imobilidade, mas no calor das ruas que – de forma promissora – voltam a ser ocupadas como o terreno próprio dos movimentos sociais e das lutas populares e dos trabalhadores e das trabalhadoras.



Renato Simões é Secretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mais uma da Folha......

Mais uma da Folha......


De Antonio Roberto Espinosa
Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.

Caros amigos,
A Folha de São Paulo preparou uma “armadilha” para a Dilma usando uma entrevista que concedi a uma das suas repórteres da sucursal de Brasília. Encaminhei a carta abaixo à redação. E peço que todos os amigos que a façam chegar a quem acharem necessário: redações de jornais, revistas, emissoras de TV e pessoas que talvez possam ser afetadas ou se sintam indignadas pela má fé dos editores do jornal. Como sabem, sou favorável à transparência, por achar que a verdade é sempre o melhor caminho e, no fundo, revolucionária.

Á coluna
painel do leitor
Seguem cópias para o Ombudsman e para a redação. Vou enviar cópias também a toda a imprensa nacional. Peço que esta carta seja publicada na próxima edição. Segue abaixo:

Prezados senhores,
Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).

Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas . A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturas sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais” , mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento, portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;

6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.

Osasco, 5 de abril de 2009
Antonio Roberto Espinosa
Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A crise econômica e a crise ecológica de um ponto de vista ecossocialista


Gilney Viana

1. Abordagem e alternativa ecossocialistas

A atual crise econômica coincide com uma crise ecológica. A crise econômica é sistêmica. A crise ecológica é global. Existe uma relação de causalidade entre elas donde a necessária abordagem teórica abrangente. A crise econômica é uma crise do sistema capitalista. A crise ecológica é uma crise da relação entre os humanos e a natureza ou mais recentemente entre o modo de vida da sociedade capitalista moderna e os ecossistemas, donde a pertinência da abordagem do ponto de vista de classe. A crise econômica questiona o modo de produção capitalista, baseado no regime de propriedade privada dos bens de produção e na desigualdade do usufruto do produto social: atinge a todos desigualmente e de forma mais cruel aos trabalhadores e povos inteiros incluídos de forma marginal ao sistema. A crise ecológica atual, derivada deste sistema (e secundariamente da contribuição dada pelas experiências do “socialismo real”) também atinge a todos desigualmente e de forma mais gravosa aos mais pobres sujeitos à injustiça ambiental, embora em escala escatológica possa atingir a todos independente de classe, nacionalidade ou situação geográfica – o que lhe dá também uma dimensão universal. A alternativa radical às crises ecológica e econômica, só pode ser um novo modo de produção e consumo voltado para o atendimento das necessidades materiais, culturais, espirituais, de todos e todas, guardadas as diferentes identidades coletivas e individuais; definido e gerido democraticamente por homens e mulheres livres; respeitando-se os limites e tempos dos ciclos de vida dos ecossistemas naturais. Essa é a abordagem e a alternativa ecossocialista.

2. A crise econômica

A crise econômica é melhor percebida por todos e todas porque atinge imediatamente a capacidade de investir, de consumir, ou simplesmente de prover a subsistência das famílias. Seus indicadores são claros para os trabalhadores e trabalhadoras e para o povo em geral: aumento do desemprego; redução da renda familiar; apelo ao seguro desemprego ou ao seguro social; e em alguns segmentos a perda ou deterioração do valor de suas economias, de seus bens, ou a incapacidade de pagar as prestações ou hipotecas dos mesmos. Para os capitalistas geram perdas com impossibilidade de honrar compromissos; falências das empresas. A grande novidade dessa crise é a virtual falência do sistema financeiro dos Estados e da Europa, que só não entrou em colapso graças à intervenção do Estado, com trilionários recursos públicos.

Os indicadores da crise econômica: 1)a queda do PIB mundial em 2009 pode ser de -2,75% segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico); ou de -0,5% a -1,0% segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional). Nos países mais desenvolvidos (participantes da OCDE) esta estima queda do PIB em 2009 de 4% a 7%. 2) Indicadores de desemprego: nos países do G-7 36 milhões ao final de 2010 (OCDE); OIT (Organização Internacional do Trabalho): desemprego em todo o mundo: mais 7,19% em 2009 em relação a 2008; podendo chegar a 230 milhões de desempregados em 2009!!!

3. A crise ecológica

A crise ecológica atual tem forte contribuição das atividades humanas. Há indicadores ecológicos que indicam contribuição humana para o aquecimento global da Terra nos últimos 300 anos, vale dizer, no período de prevalência do capitalismo (com a contribuição menor do “socialismo real”); e indicadores ecológicos que mostram a degradação dos ecossistemas naturais de forma mais acelerado nos últimos 50 anos, quando o capitalismo entrou em sua fase de globalização e sob a hegemonia neoliberal.

Uma análise da crise ecológica, com recorte temporário mais longo, pode ser vista através dos Relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, ONU), de 2007. No primeiro relatório os cientistas falam com mais de 90% de certeza que as atividades humanas são responsáveis pelo incremento da temperatura média do planeta em 0,4ºC devido ao salto da concentração de CO2 na atmosfera de 280 ppmpv (partes por milhão por volume) em 1750 para 368 ppmpv em 2007. Para barrar a elevação da temperatura média da terra em mais 2ºC até 2050 seriam necessários investimentos da ordem de 3% do PIB mundial por ano até 2030.

A“Avaliação Ecossistêmica do Milênio” (outro estudo da ONU, de 2005) indica que mais de 60% dos serviços ambientais dos ecossistemas – água doce, pesca, regulação do solo e do clima – registraram alto grau de degradação nos últimos 50 anos, gerando bem estar para parte da humanidade e perdas em grande medida irreversíveis da biodiversidade (100 a 1000 vezes mais rápido que antes da existência da humanidade) e da capacidade da natureza prover serviços fundamentais como a purificação do ar e da água que já atingem 2 bilhões de pessoas; certamente os mais pobres.

Sabidamente estamos vivendo uma sociedade urbana, com altos índices de poluição do ar nas grandes cidades; dificuldade para destino adequado para os resíduos sólidos; esgotamento sanitário insuficiente; transporte e moradias inadequados para milhões de pessoas, sujeitas às intempéries com graves repercussões à sua saúde.

4. A relação entre crise econômica e crise ecológica

A crise ecológica está relacionada ao modo de vida determinado pelo capitalismo moderno, tanto em seus ciclos de crescimento como em seus ciclos de crise, como mostram os relatórios insuspeitos da ONU. Para se enfrentar adequadamente a crise ecológica será necessário uma reversão e reorientação da base econômica hoje existente, tanto industrial quanto agrícola sob novas bases tecnológicas bem como outro padrão de consumo, em tal grandeza que não será suportável para o sistema capitalista

A atual crise econômica ,contudo, pode se resolver dentro do sistema capitalista, à custa da exclusão da maioria da humanidade e o não enfrentamento da crise ecológica, ou até mesmo com medidas que a agravem. Parece fundada a esperança de que a cidadania ambiental duramente conquistada exigirá dos governantes medidas anti crise ambiental no bojo das medidas anti crise econômica.

5. A saída da crise tem que ser negociada e tem que incluir a dimensão ambiental

A crise de 2008 se dá em contexto histórico diferente da crise de 1929. Em 1929 os EUA eram potência hegemônica ascendente, agora está em descenso. A restauração capitalista incorporou a antiga União Soviética (e todo o “bloco soviético”) em condição econômica subalterna sem renúncia à condição de superpotência militar; a Comunidade Européia se tornou um entidade forte econômica e politicamente; países capitalistas emergentes, especialmente os BRICs tornaram atores importantes na economia e na política, destacando-se entre eles a China. A política unilateralista dos EUA nos últimos 10 anos reflete sua resistência a reconhecer outros centros de poder no plano internacional, o que tende a arrefecer nesta crise. Por outro lado não há conflito político e ideológico que justifique uma guerra de grandes proporções – afora as limitações impostas pelas armas nucleares - e as guerras imperialistas sob o manto ideológico da “guerra ao terrorismo” são localizadas.

Os Estados Unidos não estão fortes o suficiente para impor as suas decisões e não estão tão fracos para aceitarem imposições da Europa ou dos BRICs (ou da China). Não há alternativas senão negociar. É o que está se fazendo no chamado G-20 (e não mais no antigo G-7), em Londres, e tende a se estender para outros foros internacionais.

De igual forma a potência ainda hegemônica, os Estados Unidos, não poderá se omitir (como já o fizeram antes) nem tão pouco recusar o enfrentamento da crise ecológica, como de fato não o fizeram agora, ainda que marginalmente nas negociações do G-20 e em seus anunciados planos nacionais anti crise (investimentos em energias alternativas, energias limpas, com redução das emissões de CO2, etc.).

6. Considerações Gerais

1. A crise econômica atual, provocada pelo domínio sem contraste nem controle do capital financeiro e seu descolamento da economia real, coincide com uma crise ecológica sem precedentes na história da humanidade (já ocorreram crises ecológica mais graves na Terra mesmo antes da espécie humana) com forte contribuição das atividades humanas. Ou seja, a crise ecológica atual é decorrência do modo de vida capitalista.

2. A percepção da crise econômica é mais imediata porque ameaça o emprego, a renda familiar, as expectativas do bem estar das pessoas; afora o domínio do assunto sobre a mídia. A percepção da crise ecológica é crescente, em todo o mundo (e em alguns lugares seus efeitos atingem diretamente familias, comunidades, populações inteiras), particularmente a partir dos relatórios do IPCC sobre mudanças climáticas de 2007. Essas percepções geram possibilidades de enfrentamento conjunto das crises econômicas e ecológicas, de um ponto de vista de classe dos trabalhadores e da maioria da população

3. Na conjuntura atual é inevitável o acirramento da luta de classes, dada a tendência dos capitalistas de fazerem recair sobre os ombros da classe trabalhadora o ônus da recuperação (desemprego, redução salarial, acesso ao fundo publico, etc.) assim como a busca do lucro fácil com a conversão dos ativos ambientais em matérias primas ou mercadorias. Sinais da resistência dos trabalhadores já foram dados em greves e manifestações pelos mais variados países. Sinais da resistência ambientalista se fizerem presentes, em separado ou em conjunto com as manifestações dos trabalhadores, agora em Londres.

4. Os governos tão atenciosos (e até graciosos) aos interesses dos banqueiros e grandes corporações não podem se esquivar de atender algumas demandas sociais e ambientais sob pena de se deslegitimarem e acirrarem a luta social e política. É o que podemos ver no comunicado do G-20, em Londres; e também nas medidas anti cíclicas anunciadas pelos governos norte-americano e europeus. A visão de futuro orienta as bandeiras de luta do presente. Elas são politicamente válidas.

5. Mas não haverá alternativa à crise econômica dentro do sistema capitalista que seja capaz de resolver a crise ecológica. Apenas uma alternativa socialista de um novo tipo, ao mesmo tempo democrática e sustentável, será capaz de superar a crise ecológica e o sistema capitalista e seu modo de vida socialmente injusto, consumista, perdulário e degradante ao meio ambiente.