quarta-feira, 2 de julho de 2008

Senhores, controlem seus radicais ...


A ultra-direita ocupou grande espaço nos noticiários brasileiros das últimas semanas e, ao que tudo indica, promete se manter nas primeiras páginas e capas de jornais e revistas, bem como nas chamadas das rádios e TVs, além – é óbvio – de ficar para cima e para baixo nas listas, blogs e sites da comunicação virtual.
Ministério Público... Dois desses escândalos, ainda que sinalizando direções opostas e partindo de posturas antagônicas, tiveram como ponto de partida o Ministério Público.O primeiro, o Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) que, em reunião secreta, constituiu uma força-tarefa visando uma ação civil-pública pela dissolução e decretação da ilegalidade do MST. O MP-RS articula-se claramente com o Executivo gaúcho, que tem à sua frente a arqui-corrupta governadora tucana Yeda Crusius. Como parte desse conúbio promíscuo entre o Executivo e o MP-RS, a grande mídia comercial. Esta, não apenas repercutiu as ações e declarações do comandante da Brigada Militar, como também – no momento exato – levou à cena pública o documento secreto do Conselho Superior do MP-RS, cujo conteúdo e natureza não contestou, tentando criar uma cortina de fumaça para as múltiplas acusações de corrupção que envolvem a senhora Crusius.
... e Ministério PúblicoO segundo escândalo tem origem no Ministério Público de São Paulo. No dia 26 de junho, os procuradores Eugênia G. Fávero e Marlon A. Weichert, honrando tradição que vem sendo construída por essa instituição, protocolaram nas Procuradorias da República do Rio, de São Paulo e de Uruguaiana (RS) representações em que pedem abertura de ação judicial contra agentes públicos acusados de seqüestros e assassinatos durante a ditadura. A iniciativa pode ter como ponto de chegada pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a interpretação da expressão “crimes conexos” que consta da lei da Anistia, e que vem sendo assacada pela direita enquanto sinônimo de “anistia recíproca”: seqüestradores, torturadores, assassinos e seus mandantes estariam de antemão anistiados – mesmo sem jamais haverem sido julgados e condenados.
As famíliasO entendimento de “anistia recíproca”, jamais foi aceito pelas entidades de defesa dos direitos humanos, pelos presos políticos, banidos, exilados e perseguidos pós-64, bem como por seus familiares. Em outubro de 2006, uma ação judicial foi aberta pela família Teles, reforçada por ação similar aberta no final do ano passado pela família do jornalista Luiz Eduardo Merlino, assassinado pelos órgãos de repressão, em 1971. Ambas as ações pedem o reconhecimento da responsabilidade do coronel Brilhante Ustra pelas torturas contra a família Teles (inclusive duas crianças) e contra Luiz Merlino que, no caso, redundaram em sua morte.
O coronel UstraAntiga gíria de presos comuns, “dar uma sugesta” significa “enquadrar”, e é quase sinônimo de “pagar um sapo seco”, que significa “ameaçar”. São exatamente essas duas expressões que melhor definem a defesa do coronel Ustra, que a revista “Época” – como no caso do decreto secreto do MP-RS – “vazou” em sua edição desta semana. Além das mentiras de praxe, o texto é entrecortado de expressões como “revanchismo” e outros lugares comuns próprios da direita quando pressionada sobre o assunto. Além disto, outro velho chavão, já desgastado desde o Tribunal de Nüremberg, quando do julgamento dos crimes de guerra dos nazistas: “Eu cumpria ordens superiores”. Seria a peça de defesa apenas tediosa, não fossem suas entrelinhas, e o anúncio feito pelo senhor Ustra de que, além várias altas patentes atuais do Exército, arrolará como sua testemunha o hoje senador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Romeu Tuma. De acordo com o coronel, o senador Tuma “acompanhou e viveu a situação de violência da época e o trabalho do DOI, já que como delegado da Polícia Civil, era o elemento de ligação entre o Comando do II Exército e o Departamento de Ordem Política e Social, órgão no qual estava lotado”. Ou seja, o que o coronel Ustra quer dizer é que, se ele cair, arrastará muita gente importante consigo e que, portanto, elas que encontrem uma saída para a situação em que se encontra: encurralado.
Quem com porcos se mistura, farelos comeHá alguns meses, o coronel Ustra deixara “vazar” também, que uma das suas testemunhas seria o senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP).Mas, “pagar um sapo seco” para um ex-presidente, ou “dar uma sugesta” num senador, deve representar muito pouco para quem está na situação do coronel: apenas um xeque ao cavalo. E o alvo do coronel agora é um xeque-mate: o senador Tuma, além de ser da base de sustentação do atual Governo, é conhecido e reconhecido publicamente como pessoa próxima do atual presidente da República, de cuja amizade privaria.Quem sabe, trate-se da última cartada do coronel, um risco calculado, pois ao longo dessa transição sem fim, não têm sido raros casos como o delegado Sérgio Paranhos Fleury que, num 1º de Maio, escorregou do seu iate, ou como o do senhor Alexander von Baumgarten, desaparecido depois de ser levado para dar umas voltas de traineira pela Baía da Guanabara. De qualquer modo, como diz outra gíria de cadeia, “passarinho que come pedra sabe o ... esôfago que tem”.
Quase pé de páginaA propósito, em entrevista ao Correio do Povo, de Porto Alegre (domingo 29 de junho), a antropóloga e professora Adriana Dias (Unicamp), baseada em pesquisas que desenvolveu durante seis anos, afirma que o neonazismo possui cerca de 150 mil simpatizantes em todo o Brasil. Enfim, como já afirmou o professor Florestan Fernandes,“O lucro não carece de democracia”.

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