terça-feira, 10 de março de 2009

Crise: o Brasil e as Alternativas


Desde o segundo semestre de 2008, assistimos, lemos e ouvimos diariamente uma avalanche de informações sobre o mercado financeiro, as bolsas de valores, a falência de grandes empresas e de bancos e a mobilização política para resolver a crise mundial.

Desde os anos 80, a ampliação do sistema financeiro internacional baseado na tecnologia da informação (Internet) e sem controle público resultou em sucessivas crises em países periféricos como a Rússia, México e Argentina, com reflexos no Brasil. Já a atual crise ocorre no centro do sistema capitalista e financeiro, ou seja, nos EUA. Ela se originou no sistema imobiliário, atingiu o sistema financeiro e rapidamente se espalhou para todos os setores da economia.

A explicação do mecanismo que a originou pode ser simplificada da seguinte forma:
a) Um cidadão deposita U$$ 1 dólar no banco;
b) O banco empresta esse único dólar para dez pessoas (sem lastro, ou seja, sem que exista esse dinheiro. Apenas na confiança de que nem todos irão sacar ao mesmo tempo, empresta-se o mesmo dólar para muitas pessoas);
c) Em troca, o banco cobra um juro de 5% ao ano para as empresas que têm poder de pagar (baixo risco) e cobra 15% para pessoas físicas com baixa renda (maior risco);
d) Os maiores investidores nesta ciranda foram os fundos de pensão, que passaram a comprar ações de grandes empresas e assegurar aos bancos o risco dos empréstimos;
e) A partir do momento que a maior empresa de seguros faliu (AIG), ruiu toda a ciranda como um castelo de cartas.

Na prática, é importante entender o significado dos seguintes termos:
Suprime: dinheiro emprestado aos mais pobres com altos juros;
Derivativos: créditos suprime vendidos de um banco para outro, com altos juros;
AIG: seguradora que garante a transação destes derivativos. Sua falência desencadeou a atual crise.

Para enfrentar um problema, primeiro devemos entendê-lo. No caso da crise que estamos tratando, não há um consenso sobre sua natureza, o que resulta numa polêmica sobre suas saídas. Existem quatro grandes caracterizações desta crise (TIPO DE CRISE - CARACTERÍSTICAS - ALTERNATIVAS - ATORES ):
Conjuntural - A crise é passageira e causada por maus negócios - Será superada em pouco tempo e, depois de alguns ajustes, voltará o crescimento - Setores da mídia como a Rede Globo e algumas federações de empresários.
Neoliberal - Falência do modelo de auto-regulação do mercado com a mínima participação estatal - Fortalecimento do Estado através de fortes investimentos no setor financeiro, industrial, infra-estrutura e social para reaquecer o mercado - Chamado grupo de keynesianos, social-democratas e desenvolvimentistas
Estrutural - Os mecanismos de acumulação de produção, das relações de classe e entre os países estão defasados - É preciso “Refundar o Capitalismo”, adotando medidas de regulação do mercado financeiro, energias renováveis e distribuição de renda - Democratas norte-americanos, especialmente a equipe do ex-presidente Clinton e da ONU
Sistêmica - O sistema capitalista está falido e chegou ao seu limite de expansão - Construir o socialismo ou uma contra hegemonia a partir de experiências localizadas, negando uma lógica central - Teóricos neo-marxistas

Provavelmente, nenhuma dessas análises é totalmente verdadeira. O mais provável é que a crise seja um pouco de cada uma delas, assim como as saídas, ainda que se precise apostar numa das lógicas como sendo a principal e sem desconsiderar as demais.




Os governos e a crise

Existem algumas outras avaliações e é importante verificar o posicionamento de alguns governos diante desta crise:

- Os EUA é o centro da crise cujas conseqüências afetam todo o mundo. O novo governo de Barak Obama atua para estanca-la o mais rápido possível, mas sabe que terá que reestruturar-se interna e externamente, e que mesmo assim terá muitas perdas e demandará um longo período de recuperação;
- Na Europa, o governo francês de Nicolas Sarkozi tenta imprimir certa liderança através de medidas ainda mais protecionistas, autoritárias e xenófobas (contra imigrantes estrangeiros);
- Os chamados BRIC´s (Brasil, Rússia, Índia e China), considerados os países em desenvolvimento no período anterior à crise, vislumbram esta situação como uma oportunidade para se posicionar ainda melhor internacionalmente.

A crise no Brasil

Quanto aos efeitos da crise no Brasil, é importante destacar que ela se dá com menor intensidade que em outros países. Se ocorresse em outra época, principalmente nos governos neoliberais de Collor, Itamar ou FHC, o efeito teria sido muito maior: primeiro, porque o Brasil estaria mais dependente dos EUA (no início do governo Lula os EUA eram responsáveis por 40% do mercado externo brasileiro, hoje é apenas 26%); segundo, porque os bancos e grandes empresas teriam sido privatizadas e o governo não teria poder para investir na economia; em terceiro lugar, não teria mudado o perfil da dívida externa brasileira e não haveria a valorização do real. Portanto, não contaríamos com reservas cambiais para fazer frente à desvalorização geral da economia internacional; e, um quarto ponto, não haveria distribuição de renda, resultando em menos mercado interno para garantir o consumo e manter a produção.

Ainda que o Brasil não esteja imune à crise, o impacto foi menor, e as expectativas de saídas são maiores em conseqüência de quatro grandes mudanças que diferenciou o atual governo petista dos governos anteriores: 1) diversificação do mercado internacional; 2) fim das privatizações, fortalecimento das estatais e investimentos como o PAC; 3) fim da dependência relativa à dívida externa; 4) maior distribuição de renda através do aumento do salário mínimo, programa bolsa família, aumento do emprego e outros programas sociais.

É importante observar ainda algumas questões:

É preciso entender a crise, promover debates e observar seus efeitos e sua ação cotidiana no seu negócio ou na sua organização;
Também é importante debater soluções coletivas. Uma situação complexa exige respostas complexas;
Não é recomendado apostas de alto risco, mas sim atuar em diferentes frentes, planejar e avaliar permanentemente a fim de corrigir constantemente os problemas;
É importante fazer planejamentos a longo e curto prazo, apontar estratégias e não se descuidar no dia-a-dia;
É preciso definir pautas políticas para evitar reveses nos direitos dos trabalhadores e propor leis para avançar nossas lutas;
Aumentar o crédito subsidiado para a agricultura familiar e a economia solidária, como por exemplo tomar emprestado R$ 1 mil, devolver R$ 500 e manter na economia local os outros R$ 500.

Esperamos ter contribuído humildemente com este debate, de maneira simples e didática, sem dispensar seu aprofundamento para dar conta de sua complexidade.


Professor Pedro Uczai – deputado estadual (PT-SC)

Nenhum comentário: