quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Capitais em disputa no campo educativo...


Baseando-se nos conceitos de campo de Bourdieu, é possível pensar em alguns capitais que poderiam disputar o campo educativo. Assim, certo tipo de capital, o cultural, está muito presente quando se fala em educação. Isso se insere através de uma perspectiva civilizatória no qual se incluem os sujeitos sociais e conteúdos previamente estabelecidos, com o intuito de reforçar a dominação ideológica sobretudo na compreensão do cotidiano.
Dentro do então chamado campo educacional brasileiro, as disputas entre agentes partem ainda, de uma perspectiva da comunicação. Fazemos essa leitura a partir do momento em que se consolidam as emissoras de televisão que apoiavam o regime militar que se inicia em 1964. Quer dizer, antes de chegar aos capitais culturais que norteiam o discurso educacional contemporâneo, é necessário entender sobretudo, de onde vem o poder e o alcance da transmissão midiática de massa, nesse tocante citando a Rede Globo.
O momento em que se consolida como veículo oficial informativo da ditadura militar, durante o governo Médici, a Rede Globo passou a invadir os lares brasileiros e com isso subvertendo a ordem de informação de acordo com os interesses do governo: começava uma ditadura pela cultura de massa no Brasil. Quer dizer, isso não é nenhuma novidade se lembrarmos do papel da radiodifusão da ideologia de um regime totalitário no Brasil, vide a Era Vargas e o papel do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) ainda nos anos 30 e 40.
É evidente que essa proposta é perceber num ponto, um foco, sobre o surgimento ou ainda, a formação de um expoente ideológico que se reflete num contexto histórico. A gênese dessa luta de capitais educativos, que remonta a própria ocupação do espaço físico brasileiro não é nossa preocupação, mas sim o momento onde essas disputas se intensificam de acordo com a historicidade.
A partir do momento em que se delimitam esses papéis, esses focos discursivos dentro da mídia brasileira, delineiam os campos de atuação de cada um. Da maneira como ocorrem esses embates, invisíveis na maioria das vezes, onde prevalecem os capitais mais interessantes a essa parcela ínfima é que deve ser o foco de uma discussão desse gênero: como se estruturam esses capitais em disputa?
Segundo Bourdieu (1997, p.82), ao citar o exemplo das televisões na França, chegou a uma interessante constatação: o discurso, por mais antagônico que pareça possui uma convergência naquilo entendido como capital simbólico. Em outras palavras, um discurso ainda que enunciado, representado, possui no seu cerne um sentido que muitas vezes não difere de um discurso dito “contrário”, pois ao final das contas não existe diferença visível na disputa do espaço de enunciação.
Partindo dessa premissa, a distribuição desses capitais simbólicos se faz a partir da disputa que se existe dentro do campo. No campo educacional, como nos outros campos, isso é ainda mais interessante quando se pensa na perspectiva civilizatória nos quais certas ações se escondem, de acordo com aqueles atores sociais já estabelecidos e aqueles que buscam se estabelecer. Cada qual faz uma leitura a sua maneira e a sua realidade. Um exemplo disso é a atual proposta de reforma ortográfica da língua portuguesa, que há quem diga que faz parte de um conjunto de interesses privados de empresas que produzem livros didáticos e para-didáticos[1]. Dessa maneira, uma reforma dessa natureza abriria um mercado editorial em países em busca de uma identidade, como as ex-colônias portuguesas devastadas por décadas de guerras civis.
Ou seja, essa é somente uma das inúmeras leituras que podem se apresentar de acordo com a situação ou contexto presenciado dia-a-dia através da imprensa escrita e/ou falada. Porém, se essa mesma informação fosse divulgada por outro canal, ela teria outro significado, outro discurso. Entre aqueles que procuram mudar o campo, existem aqueles que procuram manter o campo intacto, intacto na sua posição de detentor de uma ideologia laboriosamente constituída.
Por fim, nessa discussão entre os capitais diversos (cultural, simbólico, político) que permeiam a composição de um campo percebemos que é fundamental perceber na conjuntura, ainda que de curta duração, uma permanência e/ou rupturas continuas da ordem da representação. Dentre outras situações, nessa breve explanação, foi apontar na gênese de uma política de inclusão cultural, ainda na ditadura militar brasileira, o divisor de águas na transformação de um espaço simbólico contemporâneo visivelmente disputado.

BOURDIEU, P. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
[1] Sobre a reforma ortográfica e o mercado editorial, vide http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=15754 (Acesso em 8 de outubro de 2008) e http://www.abigraf.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3570&Itemid=43 (Acesso em 8 de outubro de 2008).


Por: Antônio Celso Mafra Junior
Historiador

Fpólis 9 de outubro de 2008

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