quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um ex-bispo que fez milagre


A sexta-feira 15 de agosto de 2008 ficará na história do Paraguai. Pela primeira vez, seu povo votou por uma mudança e sua vontade foi acatada. Se a expectativa será plenamente atendida, são outros quinhentos. De bispo afastado e amordaçado pelo Vaticano a candidato presidencial vitorioso, a ascensão de Fernando Lugo foi tão fulminante que não houve como costurar uma organização política de bases sólidas ou sequer tecer uma rede de alianças razoavelmente forte. Sua Aliança Patriótica para a Mudança, em si mesmo uma coalizão precária de oito partidos e frentes que reúnem dezenas de organizações, do Partido Liberal (dominante) a grupos de esquerda – e ainda assim teve de fazer um pacto com o ex-golpista Lino Oviedo para formar uma maioria no Parlamento. Sua equipe é inexperiente, visto que o conservador Partido Colorado não largava o osso desde 1946, e seu povo tem pouca prática de debate político aberto. Ao menos em tese, sua meta mais popular, a revisão dos acordos de Itaipu, tem poucas chances de ser realizada, pois o Tratado está perfeitamente dentro do direito internacional e o Brasil não tem nenhuma obrigação legal de renegociá-lo. Mas o presidente Lugo chegou onde está realizando coisas consideradas impossíveis. A Teologia da Libertação era tida como morta e enterrada, era ilegal um eclesiástico candidatar-se no Paraguai, não havia como derrotar os 61 anos de hegemonia colorada apoiada explicitamente pela Cúria Romana, que negava a validade de sua renúncia à batina e o atacava abertamente. Ainda em 2007, Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos, dizia que “a candidatura política de um bispo seria motivo de confusão e divisão entre os fiéis, uma ofensa ao laicado”. Mas quinze dias antes da posse, o papa retirou as ameaças e retratou-se, atendendo à antiga solicitação de Lugo para voltar a ser um leigo. De um homem capaz de fazer Ratzinger voltar atrás, não há façanha que não se possa esperar.

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